Narciso (é ator)

Eu que por tantas vezes fingi ser alguma coisa. Não encare isso como uma forma negativa, cara, eu não sou nenhum diabo nem santinha, já fiz muita coisa pra nada, saca? Você tem medo de dizer coisas erradas, eu não, to nem ai cara, to vivendo tudo que sei viver, depois vejo se está errado ou não. Não venha com esse seu jeito fresco de falar, caralho, não há coisa que me deixe mais de saco cheio do que isso. Chega de pedir pra Deus, tenta ter fé em si mesmo, você já conseguiu alguma coisa pelas próprias mãos? Ah, querido, eu sempre fui atrás, claro que tive sorte ali, azar ali, mas nada que não seja conseqüência das minhas ações. Puta se eu errei, muitas vezes, e parecia efeito domino. Um empurrãozinho e pronto, tava tudo no chão. Já me vi dentro tantas vezes dentro daquele poço gigantesco, e eu fico lá andando em círculos, mas de vez em quando crio asas e lá estou eu de novo, na superfície, como se nada tivesse acontecido. Álcool, cigarros, barulho, quem nunca teve um vicio, já disse que eu não sou uma menina pura, irada, um dia alguém disse que eu era irada. E só, aquela coisa, não ligo muito para as mentiras nem as verdades, tento encaixar como tudo igual, afinal quando você vai saber quem tava falando o que? Querido, não estou te contando nada de especial baby, é só meu jeito de falar qualquer coisa que diga muito pra mim e nada pra você, parecemos até íntimos ne, mas qual é seu nome mesmo? Ah sim, nome de anjo, acredito em anjo agora, fiz até uma promessa, quem sabe um dia também tenha asas permanentes, me dá um trago, não quero saber quantas bocas estiveram aí, só me diz que eu sou alguma coisa além da podridão desse dia, estou cansada cara, deixa eu dormir no seu colo, só essa noite, eu juro que sumo depois...

“Dá minha jaqueta, boy, que faz um puta frio lá fora e quando chega essa hora da noite eu me desencanto. Viro outra vez aquilo que sou todo dia, fechada sozinha perdida no meu quarto, longe da roda e de tudo: uma criança assustada.”

Comentários

Postagens mais visitadas