Narciso (fim)


Ela desceu pra fumar. Encontrou-o ali, na mesma posição, do mesmo jeito, com o mesmo sorriso no rosto. Mas tudo havia mudado ali. Não como antes, quando ela se achava perdida pelo mundo. Agora tinha certeza. Tinha toda a certeza do mundo. Sabia que o fumodromo fica muito bonito as nove horas da noite? Há luzes vermelhas, verdes e brancas e douradas entre as mini-palmeiras... – ela falava quase num tom absoluto se não fosse pelas suas mãos tremendo. Não estavam mais como sempre estiveram, ficou uma tensão no ar, ficou toda a tristeza impregnada ali naquelas falas. – e sinceramente, não quero desculpas, não quero que você mais fale nada. Te dei toda minha felicidade, toda minha alegria e você distorceu ela, acabou com ela, fez questão de fazer isso. Então, por favor, a única coisa que você pode fazer agora é me deixar em paz e continuar com esse sorriso que é a única coisa bonita que existe em você. – sabia que ali havia acabado tudo, mas não exatamente ali, isso já havia começado na noite anterior, em que ficou-o esperando quatro horas fodidas, já sabia que ele não vinha, mas estava ali para acabar com todo aquele sentimento por ele, tinha que ficar ali, tinha ter certeza que ele havia ido embora sem ela. – relaxa baby, não precisa falar nada, me diverti muito ontem a noite, foi mais umas das noites maravilhosas que você nunca me deu. Ele disse que sou eu e meus relacionamentos dúbios, não sei se é uma forma de enganar, de me enganar, mas eu gostei de estar ali com ele, saca, muito melhor do que esses cinco minutos que passo com você hoje. – e ela foi embora, não sabia se tinha causado algum efeito, não sabia se podia estar certa ou errada, mas fez, acabou e seguiu em frente. Era o fim do ano.

“Nada existe de mais difícil do que entregar-se ao instante. Esta dificuldade é dor humana.”

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