Narciso (eu nunca te disse)


Na verdade sempre te disse muito. Sempre fui eu que falei mais, mesmo você falando quase o mesmo tanto. Poderíamos dizer que muitos pontos eram recíprocos, comuns ou quantativos, mas eu sempre soube que existia diferença. Um dia você falou sobre nossos valores. Lembro que quando te vi pela primeira vez me assustei no começo, sempre fui totalmente contra relacionamentos por esses meios sem contato físico, mas aos poucos tudo foi fluindo normalmente, e quando a gente menos esperava parecia que já nos conhecíamos a anos. Sentávamos juntas pra escrever poesia, misturávamos nossas palavras, nossas experiências, nosso modo de vida oposto e tão parecido. Lembro do primeiro dia que pude passar a madrugada fora e saímos pra dançar. Claro que você me mostrou muito mais. Descobri um novo mundo, pude compartilhar meus medos, minhas expectativas, minhas frustrações, minhas alegrias. Ate que um dia, bêbada, você me deu aquelas alianças. E é claro que eu sei onde ela está hoje, embora sempre falasse que tinha perdido ou que não sabia onde estava. Veio sim aquela divisão de hábitos, de dias, dreads, discussões, madrugadas, responsabilidades, hoje já ate havia me esquecido do dia 13, precisamos comemorar de novo. Não acho que terminou o conto de fadas, acho ate bem uma vida cinematográfica, não existe sucessão de dias belos, uma hora ou outra haveria de ter um fim para outro começo. Naqueles dias sofri muito, acho que ninguém sabe disso. O tempo passou, e passou muito, mas ao mesmo tempo não passou porque continuamos aqui. Sinto falta dos nossos momentos diários, nós duas e mais ninguém, mas não posso voltar o passado e nem trazer o futuro para hoje para saber como vai ser nossas vidas. Mas é esperança.

Também te amo. Muito.

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