Narciso (doce)


“A questão é que não dá pra continuar assim, baby”, mas a questão era que não dava pra continuar de qualquer jeito. Não sabia quando havia esfriado, e não sabia quando havia decidido que havia esfriado, mas sabia que não dava mais. Poderia usar desculpas de horário, rotina, e até de outros homens, mas seria mentira. A verdade era que nunca conseguiu se apegar de verdade, talvez fosse fria demais, talvez nunca tivesse amado, mas o que estava mais próximo da verdade era que não consegui enxergar nada nele.

Mas não se pode agir assim, a amiga avisou no telefone. Uma pessoa não é um doce que você enjoa, empurra o prato, não quero mais. Tentaria, então, com toda a delicadeza possível, sem decidir propriamente decidiu no meio da tarde — uma tarde morna demais, preguiçosa demais para conter esse verbo veemente: decidir. Como ia dizendo, no meio da tarde lenta demais, escolheu que — se viesse alguma sofreguidão na garganta, e veio — diria qualquer coisa como olha, tenho medo do normal, baby.”

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