Narciso (de verdade)


Ela levantou e disse que estava triste de verdade. De verdade repetiu. Estávamos nós três ali na sala, ela sentada num sofá colorido ouvindo a musica que vinha da velha vitrola, um misto de clássica com jazz quanto levantou, ele lendo algum livro de vampiro ou algo parecido quando olhou pra ela, e eu ali na janela, olhando a vida dos outros e como eles pareciam felizes enquanto estávamos ali trancados com ela se lamentando. Éramos amigos porque cada um falava dos seus problemas na sua vez e quando podíamos ou estávamos a fim comentávamos, quando não, simplesmente ouvíamos e continuávamos pensando nas nossas vidas. Éramos amigos porque sabíamos disso e não nos importávamos. Mas dessa vez ela queria atenção, senão não tinha levantado do sofá. Eu não olhei, estava uma noite linda lá fora, não queria ouvir, dessa vez não.

Eu também estava triste. De verdade.

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