Narciso (contos de 1 semana)
Deveria ser algum ritual daquela blusa. Sempre que colocava, ele aparecia. Ligava perguntando onde estava, iria pega-la em 15 minutos. Vinha de moto. Ela gostava de colocar aquele capacete, deixava seus cabelos embaraçados pelo vento, a maior velocidade, as deitadas na curva. Ele voltara de viagem um dia atrás e sabia que ela gostava de ouvir as historias sobre suas aventuras. Esteve pela Bolívia, Chile e Paraguai. Trouxe uns brinquedos, jogos, tapetes com carrancas desenhadas, lhamas de pelúcia. Ela sabia de tudo isso, sabia que ele fazia questão de mostrar todas as coisas. Contara sobre algum momento no gêiser, em alguma estrada na Bolívia, onde um menino caiu e ficou com a pele da perna pendurada. Contou da pobreza e da falta de educação deles, das estradas from hell, das piadas ridículas do Paraguai, usando alguma coisa com o próprio nome do país e alguma musica típica. Na maioria das vezes não sabiam aonde ir e inventavam na hora, o que sempre resultava em. A palavra não vinha. Começaram a jogar videogame, um jogo qualquer de zumbi que vicia como qualquer jogo que você tem que ir atrás atirando em qualquer coisa que se mova. Ele sempre lhe oferecia aquele licor como se fosse a primeira vez que lhe mostrava, faziam alguma batida, geralmente com vodca, gim ou saque. Assistiram Madrugada dos mortos, ela acabou dormindo no sofá, ele a levou no colo para a cama.
“Será que vou precisar colocar essa blusa de novo pra você aparecer?” – ela perguntou, meio como afirmando, sabia que seria pior que isso. “Não, não vai precisar. Pode usar o telefone.” –montou na moto, e foi embora.
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