Narciso (o terceiro)
Não deve ter sido quando a gente se conheceu. Lembro que você me tratou bem, mas com uma certa indiferença. Perguntei se você era nacionalista ou tinha sido Marechal Teodoro em outra vida. Acho que você só falou que eu podia fumar ali na sala. Nos vimos rapidamente outro dia, aí que ontem estávamos lá, eu com uma bermuda de homem, dançando talvez gangsta rap e você sentado na rede com sua namorada. A noite passou meio rápida, acho que dormi boa parte da festa, tempo suficiente de ver todos bêbados de cerveja, pinga e o que mais tivesse ali, enquanto eu começava meu primeiro copo. Decidimos dar uma volta pela cidade, as luzes estavam tão bonitas, precisávamos abastecer os coolers já vazios, aí você disse que eu era a garota mais legal que já tinha conhecido, e eu disse, é claro, sou praticamente um homem, pegamos nosso drinks, acredito que você já estava bem bêbado, voltamos, as pessoas começaram a ir embora, cada um com seu motivo, como eu não tinha nenhum fiquei, era passadas duas horas da manha, lutávamos, rolávamos no chão, “e a Funai não faz nada”, e eu dançava, ele olhava, sabíamos que já não teria mais jeito, e no meio daquilo tudo ele disse que me amava, obviamente consertou com um amo-seu-jeito-seus-peitos-o-que-fosse, obviamente deveria estar pensando na namorada, ou não, obviamente não era o que ele queria ter dito, mas estávamos lá, os dois bêbados, nus, entregues por aquele momento sem pensar em conseqüência, é claro que eu pensava, eu havia dito que não queria me envolver, mas a minha cabeça é insistente, estava esperando ele no outro dia, ele não veio, obviamente e obviamente estou acá pensando.
É... as coisas deveriam ser sempre mais simples, se o simples já não fosse outrora complicado, e agora que é simples, não importa.
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