Narciso (munique)


Dez de maio, cortinas abertas, não que a bebida já estivesse fazendo efeito, eles desciam a rua, traziam um Jack Daniels na mão e uma garrafa de coca cola, gostavam de estragar uma bebida pura, a gente conversava sobre qualquer coisa, prestávamos mais atenção nas pessoas do local, estava convencido do que eu poderia não ter, e nem era questão de manipulação, era só força de vontade, era aquelas duas horas correndo, era eu e ele naquele quarto, cama encostada na parede, 10 anos a mais, 10 anos a menos, e agora eu só queria sair correndo, meio que fugir de tudo, mas ele me segurava ali, não, não vamos embora quando amanhecer, a bebida já havia dado efeito e eu odiava o sol da ressaca, a gente ficava ali, três horas, sem parar, agora eu queria voltar lá, mesmo que fosse só pra ver tudo de novo, ele ainda me segurava e no dia seguinte eu tentava abstrair tudo, o telefone tocava, você tem um sorriso lindo sabe boy? A noite consumia, a bebida voltava, ele voltava, trazia amigos, trazia aquele sorriso, aquele carinho, a gente voltava pro quarto, e mais três horas, e mais sei lá quanto tempo, eu já me perdia, agora eu já tinha a intenção de enlouquecer mas me segurava na tristeza como se fosse o fim, ele não queria ir embora também, mas já era tarde, tínhamos nossos compromissos, tínhamos nossa casa e tínhamos tudo ali, pelo menos pra mim. Só que eram 10 anos a mais, era longe nossas casas, ele era mais um canceriano e eu continuava com esse ataque mortal.

Como eu poderia escrever um livro nesses três dias, nessas três horas, mas eu só pensava em como eu queria esquecer tudo.

- Você tomou aquilo?
- Não.. vai ver que ele gostou de você.

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