Narciso (desprezo, sintonia e melancolia, ou deprimindo idoso)
Como vocês vão encarar seus erros da juventude, disse ela, assim, sem ponto de interrogação. Era óbvio que para ela aquilo era um erro e pra mim não, e se fosse tal, pior que um erro na pele é um marcado na alma. Como você lida com esses erros, perguntei a ela. Calou-se. É, é melhor cuidar da sua vida. O trem seguia. Eu escolhia muito bem meu lugar. Longe da velha, assim evitava o tipo de assunto de idosos, perto da porta e no começo do vagão. Hoje não estava com vontade de olhar as pessoas. A minha frente, um grande espelho negro. Meu reflexo favorito, sem grandes definições. Dava pra notar as curvas, a roupa, até o relógio de pulso, menos meu rosto. Ele se confundia, tremia junto com as pessoas atrás de mim. Mas ainda dava pra se ver o olhar de tristeza da velha.
E isso podia ser um conto, a realidade ou a falta do que fazer. Não importava.
Comentários