Impala (os dois)
Estávamos a ponto de sair de nossas vidas quase perfeitas para entrar num mundo arriscado e perigoso. Era engraçado como as frases refletidas e pensadas sumiam rapidamente. Era um um começo de um relato sincero e não bonito. Precisava dizer a verdade a mim mesmo uma única vez. Não havia mais desespero, ao contrario, uma leve calma se adentrava e uma ânsia por escrever o que eu rapidamente esquecia. Hoje, os dois me olharam enquanto eu me afastava. E havia tantas outras coincidências entre os dois, que eu mal suportava escrever. Eu amava os dois. Amava igualmente, não como uma divisão e sim como uma soma. Mas declarar isso, significava perder os dois, o que parecia o final mais coerente. No caso, se eu abandonasse os dois, seria um final mais feliz. Para todos. O tempo ajudaria. Se eu escolhesse um e deixasse o outro e talvez não desse certo com esse um eu já haveria perdido o outro. E eu só conseguia rezar agora. Rezar pra que fosse certo o que fosse certo. Mas agora, os dois sofriam. Eu sofria. Ninguém estava feliz nessa merda, e a única coisa que preenchia o coração dos três era a esperança. Finalmente estava sentindo algo novo. Como se podia, na presença de um esquecer o outro e vice-versa? Como se podia querer mudar tudo com apenas uma decisão instantânea, sem esperar Porra nenhuma de tempo? Já havia feito. O que tinha abandonado tudo para ficar comigo eu já não ficara, enquanto o outro estava prestes a abandonar tudo por mim, acreditando na mesma coisa que o outro. Ficar comigo. Num ideal eterno, lindo e colorido. Não poderia ser. Mal poderia fazer isso com os dois. Mas eu fiz e estava fazendo e agora restava esperar. Esperar que eles decidissem por mim, porque não dava mais pra mim. Mas eu ainda tinha essa urgência de decidir por mim. O que me tornava um monstro. Porque eu tinha dois barcos a deriva e eu não me deixo não remar. Mas acabava entrando em um e puxando o outro por uma cordinha. Não, não era justo. Era monstruoso. O outro me espera enquanto eu espero o outro enquanto. Porque se o outro abandonasse por mim, eu teria que deixar o outro de vez, isso seria fácil, mas e se nesse história aparecesse um outro e eu abandonasse de novo o barco? Não, isso eu não deixaria acontecer. Fato. Mas e se eu continuasse vendo o outro e ele mexesse ainda comigo e ele fosse o outro com o outro? Isso eu não poderia deixar acontecer, mas aconteceria, porque ele ainda era um ideal, embora o outro fosse também um ideal. E só eu e o Cazuza permanecemos nessa. Porque eu não queria precisar disso pra viver. Eu não queria estar é nessa enrascada, a vida finalmente não estava sendo legal comigo. Ser racional agora só piorava as coisas. Continuar puxando os dois também. Mas o que eu faria, meu deus? Estava apostando em dois barcos já furados? Ou eu que nem sei nadar, estava desesperadamente tentando me matar? Ou quem sabe, estava tão próxima da felicidade e a felicidade fosse igual uma roleta e eu tivesse que apostar antes de merece-la? Essa noite, só me restava rezar. Para que eu ficasse com quem eu amasse e quem me amasse ficasse e fosse o menos amargo possível.
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