Impala (nós e mãos)
Não precisava te mandar mensagem, porque talvez fosse mais egoísta
ainda, só queria falar mais um pouco de você sobre mim, então era só uma
questão de escrever e te entregar depois. Andei pensando bastante em você,
coração, não porque já gosto de você ou quero você, isso você mesmo já sabe,
andei pensando nas causas, embora ontem me forcei a abdicar disso, andei
pensando nos porquês, no que você me fala, na vida de um modo geral, na sua
vida na minha, acho que me dispersei procurando entender sentimentos e vontades
e decisões, não precisava de nada disso.
Agora talvez entenda melhor essa sua crença no desapego. Acho que cada um carrega isso e transforma
de um jeito diferente. Por incrível que pareça, eu tenho essa mesma crença, mas
acho ela tão sofrida de se conseguir de fato, que acabo fazendo tudo ao
contrario. Dou importância demais a tudo, criando um próprio desapego de tudo,
nunca fui de sofrer tempo necessário pra carregar as coisas. Mentira. É bem provável que me apegue a tudo e a todos. Não tenho
vocação pra ser um mestre zen, pra ir pro céu ou pra enxergar a luz no fim do
túnel.
Mudando de assunto, estava pensando na questão do tempo. Você
disse que a maioria das pessoas correm com a vida. Eu na minha condição de
ansiedade fatal, capaz de coisas incríveis, não posso dizer que sou diferente.
Mas acredito no tempo de uma outra forma. Só existem duas maneiras de lidar com
o tempo. Ou você é escravizado por ele, ou você o escraviza. Mas achei
engraçado quando disse que vai com a vida devagar. Na sua qualidade de músico,
acredito que tenha a mesma inquietação que a maioria dos outros músicos. Não
que isso tenha a ver com o seu tempo cronológico ou mental, mas se você
escolheu um tipo de vida, bem...
Queria te escrever mais um tanto de coisas. De como eu fiquei puta
quando você duvidou que eu não te mandaria mensagem. E pra mim, o único motivo
dessa dúvida era porque você não queria que eu mandasse. E mais puta ainda,
quando eu soube que meu premio de recompensa seria um “bom dia” no dia seguinte.
Como se isso fosse uau. Acabo de receber “é o fim de nós?”. Isso não é
bom. Me recordei rapidamente de todas as
pessoas e coisas que perdi por ainda não estar preparada para elas, ou por
ainda ter muita curiosidade de mundo e dificuldade em ser permanente. O que
teríamos afinal, nós? Uma espécie de fingimento e verdade, acho que eu acredito
nisso. Fingimento porque dizemos e agimos um ao outro como se nada estivesse
acontecendo, como se não quiséssemos nada pra amanhã, ou mesmo que não quiséssemos
mudar nossas situações. A verdade é porque é verdade sim isso tudo também. Ou
não. Mas não acredito que você tenha uma ideia mais definida do que eu.
Eu nunca aceitei a simplicidade do sentimento. Eu
sempre quis entender de onde vinha tanta loucura, tanta emoção. E por enquanto,
nós éramos sem começo, sem meio, sem fim, sem solução, sem motivo. E estou
adorando isso.
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