Impala (sobre a foto com flores amassadas)
Isso era para ser uma carta, não, não, você sabe: essas letras num papel manchado, cheirando a perfume francês barato com aquela rodela do copo de café que ficou em cima por semanas (você bem sabe que eu odeio lavar louça), canto amassado pela ansiedade, não, não, eu não faço mais isso. Traçando esboços, era mais minha cara. Eu tinha uma tradição de Ano Novo. Escrevia num papel as coisas que eu queria pro ano que vem, colocava num envelope, colocava uma vela em cima e esperava ela queimar inteira, isso selava o envelope (inteligente, não?!) e deixava lá num canto de uma gaveta até o próximo réveillon. Aí abria e lia de novo, porque obviamente já tinha esquecido tudo. Se as coisas não tivessem se realizado, eu queimava a carta como num ato de vingança. Se realizasse, eu guardava para lembrar das coisas boas que aconteceram comigo. E esse ano pensei em colocar você nos pedidos, assim, levando ao pé da letra. A testa franzia, os olhos apertavam, foram 10 anos de tradição. Procurei na minha gaveta se havia algum papel. Foram 10 anos. Tá, tá, acho melhor não te colocar nos meus pedidos.
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